Com ajustes, “metal cerveja” do Black Laguna pode convencer mais

Black Laguna: “Black Laguna” (2013)
As influências do Black Laguna são claras. A banda respira Pantera – e projetos complementares de envolvidos, como Down e Hellyeah – e transpira Black Label Society. Distorções pesadas, tonalidades graves e vozes rasgadas marcam o grupo de São Paulo, que dá um pouco de brasilidade ao southern metal nascido no sul dos Estados Unidos.
O primeiro EP do grupo, lançado em 2013, foi apresentado a mim e aparece descrito nas redes sociais como “um fôlego discrepante no cenário underground brasileiro em meio a um turbilhão caótico de repetições, cópias e ‘mais do mesmo'”. Não é bem assim. Claramente são poucas bandas que praticam esse estilo de forma competente no Brasil – e, sem dúvidas, o Black Laguna é bom no que faz. Mas o “metal cerveja” que os paulistas tocam aqui já existe há um bom tempo e, ao menos na parte instrumental, não traz nada de novo. A roda não foi reinventada – e isso é bom em alguns momentos, mas ruim em outros.
A abertura “Inseto Asqueroso” é questionável em alguns pontos, mas mostra que a banda acertou em outros. A produção destoa positivamente das que são geralmente feitas no Brasil: o vocal não é colocado em tanta evidência com um volume muito mais alto do que o restante do instrumental, que ganha uma coerente potência. No entanto, as técnicas extremas de canto de Ryan Lopez – especialmente em momentos screamo – precisam ser melhor desenvolvidas.
Não que exista nada mal colocado ou desafinado. Pelo contrário: Lopez é o cantor ideal para o Black Laguna. Mas a pronúncia, em muitos momentos, é ruim. Mal dá para entender a letra em certos trechos. Se a composição é em português, pressuponho que a intenção é garantir maior proximidade com o público nacional. Mas como isso é feito se a compreensão dos versos é comprometida?
Prova de que o screamo deve ser deixado de lado é a canção seguinte, “Resto do Lixo”. Arrastada, a faixa deixa claro que a voz grave e rouca de Ryan Lopez é forte. A melhor opção, diria. Não há screamo nessa música. O instrumental permanece irretocável. As guitarras pesadas de Fabrício Pereira e a bateria precisa de Paulo Hipolito são essenciais para dar consistência.
“Aqui Jaz o Silêncio” traz a boa participação do vocalista Marcelo Smile (Tallene), que apresenta um senso melódico que contrasta com a agressividade de Ryan Lopez. Os riffs dessa música são os melhores do EP, mas acho que faltaram solos de guitarra.
“O Velho Beberrão” também conta com riffs sensacionais, sempre com o complemento da bateria, que alterna bem entre momentos mais ou menos arrastados. A letra temática é boa – e nem precisa explicar, mas é contada a história de um… velho beberrão. “Bem Vindos a Wolf Creek” traz variações de campo harmônico e, enfim, solo de guitarra. É um bom encerramento, mas que pouco muda em relação às canções anteriores.
Abandono do screamo, mais solos de guitarra e mais variações rítmicas. O Black Laguma é bom, promissor e pode evoluir muito se levar esses três elementos aconselhados em consideração. O EP é bom, pesado e divertido. Mas a audição pode ficar enjoativa em um futuro full-length se a fórmula aqui apresentada for seguida tão à risca.
Nota 7
Ryan Lopez (vocal)
Fabricio Pereira (guitarra, baixo)
Paulo Hipolito (bateria)
Diego Iastremski (guitarra – atual integrante, mas não toca no EP)
01. Inseto Asqueroso
02. Resto do Lixo
03. Aqui Jaz o Silêncio
04. O Velho Beberrão
05. Bem Vindos a Wolfcreek

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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