O número causa estranheza — visto que o primeiro álbum, “Lonesome Crow”, saiu em 1972 —, mas é verdade: em 2025, o Scorpions completa 60 anos de carreira. Em termos locais, o momento é especial por marcar, também, quatro décadas da primeira visita do grupo alemão ao Rio de Janeiro e, consequentemente, ao Brasil, como atração do Rock in Rio 1985.
Sob tais efemérides, o quinteto hoje composto por Klaus Meine (voz), Rudolf Schenker (guitarra), Matthias Jabs (guitarra), Pawel Maciwoda (baixo) e Mikkey Dee (bateria) chegou ao Rio de Janeiro para apresentação em um lotado Qualistage, na última segunda-feira (21). Foi a terceira e última de uma turnê iniciada em Brasília, na quarta (16), e continuada em São Paulo, como atração do Monsters of Rock 2025, no sábado (19).
Nem tudo era convidativo para uma grande noite. O show estava programado para começar às 22h e não havia banda de abertura. Alguns minutos após o horário agendado, as luzes se apagaram e o telão passou a exibir um vídeo com momentos marcantes do Scorpions ao longo de seus 60 anos de carreira — que, claro, continha menção ao Rio de Janeiro e seu festival mais conhecido.
A introdução da música de abertura, “Coming Home”, é executada em playback. Dee, primeiro a adentrar o palco, é seguido de Meine. Os demais se juntam quase que simultaneamente e executam a parte ao vivo da canção, primeira das seis que viriam do álbum multiplatinado “Love at First Sting” (1984).
“Gas in the Tank”, por sua vez, foi a representante isolada do disco mais recente, “Rock Believer” (2023), e a única do set lançada nos últimos 35 anos — o restante do set veio de trabalhos anteriores a 1990. A cadenciada “Make it Real”, na sequência, mostra uma das grandes qualidades da banda: criar melodias inesquecíveis sem abdicar do peso. Como ela, a intensa “The Zoo” vem do álbum “Animal Magnetism” (1980) e contou com sua execução estendida, durante a qual Meine distribui baquetas para fãs mais próximos.
A instrumental “Coast to Coast” percorreu caminho ainda mais distante: era a primeira oriunda da década de 1970, fase de enorme criatividade e ainda com Uli Jon Roth na guitarra solo. Preparou terreno para uma homenagem a este período: um medley com “Top of the Bill” (de “In Trance”, 1975), “Steamrock Fever” (“Taken by Force”, 1977), “Speedy’s Coming” (“Fly to the Rainbow”, 1974) e “Catch Your Train” (“Virgin Killer”, 1976). Trata-se da mesma combinação executada quando da última passagem pelo RJ em 2019, também no Rock in Rio. A se lamentar, apenas o fato de não terem sido tocadas na íntegra.
A partir daí, o setlist praticamente reuniu somente músicas de seus discos mais populares: o já citado “Love at First Sting” e “Crazy World” (1990). Não à toa, Meine trajava uma jaqueta com o nome do álbum de 1984 nas costas, já dando pistas do que seria a noite. Enérgica, “Bad Boys Running Wild” teve ótima performance do cantor de 76 anos e solos vigorosos.
“Send Me an Angel” recebeu uma dedicatória a Freddie Mercury. Klaus lembrou de uma festa da qual ambos fizeram parte em 1985 e celebrou os artistas do Rock in Rio. Da cantoria coletiva às lanternas de celular, o público reagiu com emoção a esta balada e à seguinte, “Wind of Change”, mega-hit de letra alterada em função da guerra na Ucrânia.
Passadas “Loving You Sunday Morning” (surpresa dos sets no Brasil oriunda de “Lovedrive”, 1979) e “I’m Leaving You”, apenas Maciwoda e Dee ficaram no palco para uma jam de baixo e bateria, logo se transformando em um solo do segundo instrumento. E que solo. Mikkey parece recuperado da cirurgia no pé, a que submeteu após uma infecção generalizada. Mesmo assim, deu um tempo para que seu filho, Marcus, assumisse as baquetas e tocasse “Tease Me Please Me” e “Big City Nights”, encerrando a parte regular do set.
No bis, a banda logo de cara sanou a dúvida que pairava: “Still Loving You”, canção cortada em Brasília, se fez presente tal qual em São Paulo. Se é para falar de ausência, porém, o Rio não contou com o escorpião inflável gigante que ocupou os palcos da Arena BRB Mané Garrincha e Allianz Parque. Provavelmente, questão de espaço, visto que o Qualistage não é um espaço aberto, tampouco tem as dimensões de um estádio. “Blackout” voltou a incendiar o público antes de “Rock You Like a Hurricane”, um dos grandes hinos desses 60 anos de história.
Em termos sonoros, o Scorpions sempre transitou entre hard rock clássico, heavy metal tradicional e baladas memoráveis. Riffs fortes, melodias marcantes, vocais expressivos e cozinha precisa, sem rodeios, são algumas de suas marcas. Tais características se fizeram presentes na apresentação de segunda-feira (21), inclusive por uma escolha de repertório que colaborou para esta finalidade — ainda que tenha deixado um gostinho de “quero mais” para fãs que apreciam todas as fases. Mas gostinho de “quero mais” é sempre bom. Seis décadas de história e o público segue em busca de mais.
Scorpions — ao vivo no Rio de Janeiro
- Data: 21 de abril de 2025
- Local: Qualistage
- Turnê: 60h Anniversary
- Produção: Mercury Concerts
Repertório:
- Coming Home
- Gas in the Tank
- Make It Real
- The Zoo
- Coast to Coast
- Top of the Bill / Steamrock Fever / Speedy’s Coming / Catch Your Train
- Bad Boys Running Wild
- Send Me an Angel
- Wind of Change
- Loving You Sunday Morning
- I’m Leaving You
- Bass/Drum jamming and Drum Solo
- Tease Me Please Me
- Big City Nights
Bis:
- Blackout
- Still Loving You
- Rock You Like a Hurricane
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