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Roger Waters rebate Nick Cave após ser chamado de “constrangedor” por boicotar Israel

Rixa entre o britânico e o australiano se desenrola desde a década passada, tendo o tema como mote principal

Recentemente, Nick Cave voltou a criticar abertamente Roger Waters por conta do boicote a Israel. Junto de outros artistas, o líder do Pink Floyd em sua era mais bem-sucedida mobiliza artistas de todo o mundo, os conclamando a não se apresentar no país enquanto o genocídio palestino se prolongar.

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Em 2017, o britânico tentou dissuadir o músico australiano de realizar shows na nação. Em resposta, o artista chamou o movimento de boicote de “covarde e vergonhoso”. Durante entrevista recente ao podcast da revista Reason, ele mostrou que a opinião não mudou, mesmo com os eventos recentes.

Conforme transcrição do Far Out Magazine, Nick explicou na declaração recente:

“Eu simplesmente sinto – e não sou amigo do governo de Israel – mas eu simplesmente sinto, em algum nível, que acho difícil aceitar o uso da minha música para punir pessoas comuns por causa dos atos do governo delas. Meio que se resume a isso, até certo ponto. Entendo que seja controverso, mas apenas não concordo com boicotes culturais em geral.”

À época em que Cave escolheu tocar em Tel Aviv, Waters respondeu dizendo:

“Nick acha que isso é sobre censura à sua música? O quê? Nick, com todo o respeito, sua música é irrelevante para essa questão, assim como a minha, assim como a de Brian Eno, assim como a de Beethoven. Isso não é sobre música, é sobre direitos humanos.”

Mencionando o músico, assim como o já citado Brian Eno, Nick recordou o caso e contra-atacou:

“São pessoas diferentes. Brian Eno é um peixe diferente de Roger Waters, a quem considero profundamente prejudicial ao movimento de boicote. É constrangedor. Brian Eno é um personagem diferente, ele é um indivíduo atencioso.”

A resposta de Roger Waters

Após tomar conhecimento da declaração, Roger Waters recebeu pedidos por uma resposta. Ciente de que poderia ser editado ou até mesmo ignorado, o próprio fez um vídeo em seu Instagram, onde leu sua argumentação. Ele diz, conforme transcrição do site IgorMiranda.com.br:

“Ok, ontem acho que o jornal Independent na Inglaterra publicou uma matéria que tinha a ver com uma entrevista que Nick Cave, um músico australiano, estava fazendo para promover um novo disco que ele fez com sua banda. Aparentemente eles me pediram um comentário e eu dei. Duvido venham a publicar, então pensei em ler para você, caso esteja minimamente interessado.

Tenho que declarar que não sou um grande fã desse tal de Sr. Cave por todos os motivos que aparecem aqui. Tudo bem, então foi isso que enviei para o Independent. Vamos ver se eles publicam ou não. Tudo bem, vou segurar o telefone porque estou lendo isso de algo na minha frente. Aqui vamos nós.

‘Caro Independent, aqui está minha resposta ao sujeito australiano. Nick Cave. Nick f*cking Cave. Tudo bem, aqui vamos nós, Nick. Pronto? Tudo bem. Claro? Prestando atenção? Ótimo.

Uma mãe/pai palestino carregando os pedaços de seu filho morto de volta pela estrada amarga para lugar nenhum em um saco plástico para na beira da estrada rabiscar uma mensagem nos escombros. Nick. Aqui está a mensagem.

Caro Nick Cave, nós, o povo indígena da Palestina, nesta agonia, imploramos a você, por favor, não cruze a linha de piquete do BDS para cantar e ganhar seu jantar em Israel. Não é complicado, Nick. Não é complicado.

Esse ato, cantar para ganhar seu jantar em Israel, Nick, esse ato serve para encobrir a ocupação sionista israelense de 75 anos, o roubo de terras, o apartheid e o genocídio do nosso povo. Por favor, por favor, por favor, siga o exemplo de Roger Waters, Brian Eno e muitos, muitos milhares de outros que são ativos no movimento BDS. Nick, preste atenção.

Nick, cada gota preciosa de empatia, cada mão amorosa estendida, cada voz levantada em harmonia conta. Roger Waters e Brian Eno são nossos irmãos. Agora, Nick, preciso encontrar um lugar para enterrar esses pedaços do meu filho.’

Certo. Alguns anos atrás, depois que Cave fez sua terrível entrevista coletiva depois de ir e tocar para os porcos genocidas assassinos em Israel, ele fez outra onde acusou Brian Eno e eu de sermos covardes. Covardes.

Tudo bem. Eu escrevi um pequeno artigo. Chama-se ‘The Road to Damascus’. Eu vou ler, sabe. Desde então, descobri que Nick foi criado em uma espécie de família metodista e ele leu a Bíblia quando era jovem.

Então pode ser que ele entenda todas essas coisas, todas as coisas proféticas na Bíblia sobre o Messias e o fim dos tempos e tudo mais. Se for, isso explicaria seu comportamento narcisista e desumano em relação aos nossos irmãos e irmãs na Palestina. Tudo bem, aqui está.

Chama-se, Nick, Nick, preste atenção. Chama-se ‘The Road to Damascus’. Então, eu e esse sujeito australiano estamos andando pela estrada a caminho de um show.

Assim que chegamos lá, vemos esses soldados fortemente armados do outro lado da estrada, derrubando esse sujeito árabe no chão, ajoelhando-se sobre ele, chutando-o na cabeça e batendo nele com suas coronhas de rifle. Eu atravesso para o outro lado, Nick, protesto contra eles, os soldados. Os soldados me disseram para cair fora ou vão me prender.

‘Você está bem?’ eu perguntei ao sujeito, uma pergunta idiota. ‘Posso ajudar?’ ‘Sim’, ele diz. ‘Vocês são músicos, sim?’ ‘Sim’, eu respondo.

‘Eles roubaram nossa terra’, ele diz, ‘estamos resistindo a eles. Há um boicote cultural. Por favor, não faça um show aqui.’

Enquanto ele é arrastado para longe em direção à carroça de arroz, joga um pequeno distintivo redondo de metal na minha direção. Volto para o outro lado da rua, onde o sujeito australiano estava assistindo aos eventos se desenrolarem.

‘Você viu isso?’ Eu digo. ‘Sim, que pena’, ele responde. ‘Vamos, temos um show para fazer, cara’.

‘Não’, eu digo. ‘Há um boicote cultural. Aquele sujeito árabe é uma vítima. Os soldados, os soldados israelenses, são perpetradores. Temos o dever moral de ficar ao lado da vítima’.

‘Não tente me intimidar, seu constrangedor, covarde e idiota’, diz o australiano, o sujeito australiano.

E ele me empurra para dentro do show. Eu me abaixo na poeira, pego o distintivo do BDS e o prendo na lapela. Acho que isso diz tudo.

Agora, se o The Independent vai ou não publicar alguma coisa disso, eu não tenho a mínima ideia e não me importo. Bem, na verdade, eu preferiria muito que eles fizessem isso. Mas estou publicando isso e espero que você assista.”

Juntos no Brasil

Em uma daquelas coincidências do destino, Nick Cave e Roger Waters passaram pelo Brasil na mesma época em 2018. Os dois chegaram a ficar hospedados no mesmo hotel em São Paulo.

Durante sua coletiva, conforme registro do jornal O Globo, Cave respondeu que manteve o show em Israel por uma “questão de princípios”, contra artistas que fazem “bullying e censura” por motivos políticos. E ainda aproveitou para uma alfinetada:

“Não acredito que minha música tenha condições de resolver os problemas do mundo. Isso eu deixo para Roger Waters.”

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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