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Bruce Dickinson encanta com tributo a Jon Lord junto a grupo e orquestra em SP

Execução de “Concerto for Group and Orchestra” ganhou punch no palco e foi complementada por mais Deep Purple (inclusive “Burn”) e números solo da voz do Iron Maiden

Bruce Dickinson nunca escondeu que Deep Purple é sua banda favorita. Como bom fã que é, faz questão de homenageá-la quando possível. Ainda em 2019, realizou shows no Canadá executando o “Concerto for Group and Orchestra” (1969), composição do saudoso tecladista Jon Lord performada pelo Deep Purple com a Orquestra Filarmônica Real. Retomou o projeto em 2021, na Hungria, e agora o trouxe para quatro shows no Brasil (clique aqui para informações sobre todas as datas), após ter feito mais datas pela Europa.

A primeira apresentação em território nacional aconteceu no último sábado (15), no Vibra, em São Paulo. Estamos falando do país (e da cidade) que mais ouve Iron Maiden no mundo pelo Spotify, então, todos os ingressos foram vendidos – ainda que na configuração de auditório, com cadeiras, tendo capacidade máxima para aproximadamente 4 mil pessoas.

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Foto: Jeff Marques

Acompanham o cantor do Iron Maiden os seguintes músicos: John O’Hara (Jethro Tull) nos teclados, Tanya O’Callaghan (Whitesnake) no baixo, Kaitner Z Doka (Jon Lord, Ian Paice) na guitarra, Bernard Welz (Jon Lord, Don Airey) na bateria e Mario Argandonia (Scorpions) na percussão. Welz, vale destacar, subiu ao palco com uma bandeira do Brasil.

Foto: Jeff Marques

A orquestra, por sua vez, é conduzida por Paul Mann, que atuou na reconstrução da obra no final dos anos 1990, após Lord ter perdido o roteiro original. Ela conta com músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), além de outras sinfônicas nacionais.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemo. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Aplausos até no aquecimento

Roqueiro brasileiro é tão devoto de Nossa Senhora do Iron Maiden que logo nos primeiros segundos da apresentação, enquanto ainda a orquestra fazia um breve aquecimento, teve gente aplaudindo e até gritando. O curioso caso foi logo constatado por Bruce Dickinson, que, antes de explicar o “Concerto for Group and Orchestra”, comentou:

“É a primeira vez que vejo alguém aplaudir a primeira faixa, quando a orquestra ainda está aquecendo.”

Em seguida, o cantor ressaltou que considerava especial a obra a ser apresentada porque “não é uma banda com orquestra ao fundo, é banda e orquestra juntas”. Ainda destacou como interpreta os três movimentos do concerto:

  • o primeiro, “Moderato – Allegro”, é como se “banda e orquestra não se gostassem e tentassem ficar se exibindo para mostrar que um é melhor do que o outro”;
  • o segundo, “Andante”, é quando entram os vocais e é “a parte mais triste”;
  • o terceiro e último, “Vivace – Presto”, é quando “banda e orquestra enfim percebem que podem fazer coisas legais em sintonia”.

Além de introduzir cada integrante da banda e o regente Paul Mann (o mais aplaudido junto da baixista Tanya O’Callaghan), Dickinson fez questão de exaltar os esforços da orquestra. “Eles não têm nome, são os anônimos, mas trabalham duro demais em prol do resultado final”, declarou.

Concerto para grupo e orquestra

Beirou o irretocável a execução feita por grupo e orquestra. O primeiro movimento, de fato, é repleto de exibicionismos de ambas as partes. Os cinco primeiros minutos trazem os instrumentos clássicos criando um clima pomposo para, então, os músicos de rock roubarem a cena. São dois “duelos” até chegar a um solo (realmente solo, no sentido de solitário) de guitarra de Kaitner Z Doka, que, apesar de algumas notas emboladas, arrancou a primeira leva de aplausos desde o início real da performance.

Foto: Jeff Marques

Já o segundo traz Bruce, enfim, nos vocais; mas só depois de 5 minutos. De fato, uma melancolia quase pop toma conta das passagens cantadas. Mesmo quando o instrumental é retomado, Dickinson segue no palco, “dançarolando” e mostrando saber, de cor, cada parte daquela obra. Também neste número, os teclados de John O’Hara – que emulam Jon Lord com perfeição – começa a se mostrar como a “cola” que gruda banda e orquestra.

O movimento final é carregado de drama e, como em outros momentos, dilui passagens só com banda e só com orquestra. O aplaudido solo de bateria de Bernard Welz parece ser um alerta de que, a partir dali, enfim as duas partes irão se integrar. No fim, o “Concerto for Group and Orchestra” agradou e soou mais vívido e interessante do que na gravação original. Mas não dava para negar: a maioria estava ali para assistir à segunda parte do show, com outros clássicos do Deep Purple na voz de Bruce Dickinson.

Foto: Jeff Marques

Merchan e canções solo

Um intervalo de 15 minutos – que acabou durando 20 – foi anunciado antes da retomada do show. Enquanto isso, os telões, desligados durante toda a performance, foram enfim utilizados para exibir uma propaganda da Bodebrown, cervejaria curitibana parceira do Iron Maiden e responsável por fabricar a bebida Trooper no Brasil. Rainha (ou donzela?) do marketing, a banda britânica não poderia deixar de se fazer presente no evento de alguma forma.

Foto: Jeff Marques

Ao retornar, Bruce Dickinson executou duas músicas de sua carreira solo com banda e orquestra. Difícil dizer a melhor. “Tears of the Dragon” serviu para mostrar que pouquíssimos cantores no rock e heavy metal envelheceram como Dickinson. No alto de seus 64 anos, ele entregou todos os tons altos da versão original. Foi de arrepiar. “Jerusalem”, em seguida, emocionou e empolgou a ponto de fazer um fã levantar da cadeira para curtir pela primeira vez dentro de meu campo de visão. Ambas ganharam dramaticidade e força inexplicáveis com a presença do trabalho orquestrado.

As outras faces de Jon Lord

Feitos os gracejos à carreira solo de Dickinson, era hora de retomar a homenagem ao Deep Purple e especialmente a Jon Lord, que, além da música erudita, era apaixonado por rock. Somente músicas do Purple – com direito a uma surpresa no fim – seriam tocadas a partir dali. A começar com “Pictures of Home”, o primeiro momento realmente “pauleira” da noite, ainda que a orquestra siga acompanhando. Cada vez mais solto, Bruce se divertiu e dançou no palco como se ninguém o visse.

Foto: Jeff Marques

A melancólica “When a Blind Man Cries” talvez tenha oferecido, na noite, a interpretação mais consistente do vocalista do Iron Maiden em uma música do Purple – e olha que ele arrebentou em todas. O timbre de voz mais “grosso” ostentado pelo frontman na atualidade casou perfeitamente com a canção e chegou a lembrar o próprio Ian Gillan em alguns momentos.

A dobradinha que conclui o set regular arrancou reações empolgadas mesmo em contextos distintos. “Hush”, original de Joe South e consagrada com o Deep Purple, injetou groove numa performance não exatamente marcada por tal característica. Os teclados de John O’Hara roubam tanto a cena que o próprio Bruce Dickinson resolve brincar com o instrumento, apertando algumas de suas teclas durante um solo. Em “Perfect Strangers”, Dickinson nem precisaria mover um músculo. Sua voz poderosa era o destaque, mesmo com uma banda tão redonda e entrosada por trás. Novamente: é incrível como canta este homem, aos 64 anos e tendo superado um delicado câncer na língua há menos de uma década.

Na volta para o bis, a orquestra mostrou-se mais discreta e os protocolos da plateia sentada foram, enfim, quebrados: todo mundo se levantou e foi para frente do palco curtir “Smoke on the Water” com Bruce, banda e orquestra. Ainda que batidíssima, a canção funcionou – com exceção do solo alterado de Kaitner Z Doka.

E para fechar a noite, uma surpresa. Pela primeira vez nesse projeto, Bruce Dickinson cantou “Burn”, única música da fase David Coverdale/Glenn Hughes a ser contemplada no repertório. Aí, sim, o Vibra veio abaixo – e com razão, tendo em vista a incrível interpretação oferecida.

Mais Bruce Dickinson, por favor

Ainda que tenham sido duas horas de apresentação, o gostinho de “quero mais” ficou na boca de muita gente. Como Bruce Dickinson não canta por tanto tempo na primeira etapa do set, devido à performance do “Concerto for Group and Orchestra”, a sensação era de que o show poderia rolar por mais trocentos minutos que ninguém reclamaria.

Talvez este seja um dos segredos do sucesso: fazer com que sintam a sua falta. Bruce poderia estar envolvido em muitos outros projetos musicais, desde a reativação de sua carreira solo até iniciativas mais experimentais. Em vez disso, o inquieto baixinho prefere envolver-se com diversas atividades fora da música, da aviação ao empreendedorismo, da literatura ao desenvolvimento de cervejas e por aí vai.

Foto: Jeff Marques

Por outro lado, somente o Coldplay é mais “gringo-brasileiro” que Dickinson no momento. O cantor veio duas vezes ao Brasil em 2022 – uma com o Iron Maiden e outra sozinho para dar uma palestra. Retornou agora para o tributo a Jon Lord e fará mais dois eventos falados por aqui; um no festival Summer Breeze Brasil (daqui duas semanas), o outro na CCXP (no fim de 2023). Ele está com os fãs a todo instante; nem sempre cantando.

Fato é que seria um erro não levar o tributo a Jon Lord a outras partes do mundo, bem como deixar de gravar um álbum ou vídeo ao vivo para eternizar tal projeto. O resultado beira a perfeição. Mesmo a parte do “Concerto” em si, que poderia até parecer meio chata para quem não gosta tanto de música clássica, torna-se bem interessante na minuciosa execução ao vivo. E a segunda etapa do show já vale, por si só, o ingresso em sua totalidade.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemo. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Bruce Dickinson – ao vivo em São Paulo

  • Local: Vibra
  • Data: 15 de abril de 2023
  • Turnê: Concerto for Group and Orchestra and the Music of Deep Purple

Repertório:

Set 1

  1. Concerto for Group and Orchestra, First Movement: Moderato – Allegro
  2. Concerto for Group and Orchestra, Second Movement: Andante
  3. Concerto for Group and Orchestra, Third Movement: Vivace – Presto

Set 2

  1. Tears of the Dragon (Bruce Dickinson)
  2. Jerusalem (Bruce Dickinson)
  3. Pictures of Home (Deep Purple)
  4. When a Blind Man Cries (Deep Purple)
  5. Hush (Joe South)
  6. Perfect Strangers (Deep Purple)

Bis:

  1. Smoke on the Water (Deep Purple)
  2. Burn (Deep Purple)

Bruce Dickinson, banda e orquestra ainda se apresentarão nos seguintes locais e datas:

  • 19/04/2023: Curitiba (Teatro Positivo)
  • 21/04/2023: Rio de Janeiro (Vivo Rio)
  • 25/04/2023: Porto Alegre (Auditório Araújo Vianna)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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