Os Beatles, oficialmente, nunca tiveram baixas em sua formação. Desde que se consolidaram com John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, o quarteto não se separou até o fim do grupo, em abril de 1970.
No entanto, não é segredo para ninguém que as tensões internas fizeram com que integrantes passassem muito perto de sair dos Beatles. Ringo Starr, em 1968, e George Harrison, no ano seguinte, chegaram a deixar a banda por algum tempo, mas logo retornaram.
Ringo Starr ficou fora da banda por cerca de duas semanas, entre o dia 22 de agosto e 4 de setembro de 1968. Na ocasião, a banda estava registrando o famigerado “White Album”.
Em entrevista concedida ao livro “Anthology”, Ringo Starr relembra o ocorrido:
“Senti que não estava tocando muito bem e que, enquanto os três outros músicos estavam muito felizes, eu não estava. Fui visitar John (Lennon), que estava morando em meu apartamento em Montagu Square com Yoko (Ono) desde que saiu de Kenwood. Eu disse: ‘estou saindo da banda porqu não estou tocando bem e não me sinto amado e dentro disto, enquanto vocês três estão próximos’. E John disse: ‘eu pensei que eram vocês três!’.”
Ele complementa: “Fui até Paul (McCartney), bati na sua porta e disse a mesma coisa. E ele também respondeu: ‘eu pensei que eram vocês três!’. Nem me incomodei de ir até George (Harrison). Apenas falei: ‘estou tirando uma folga’. Levei meus garotos para Sardenha”.
A razão da saída
O motivo da saída de Ringo Starr nunca ficou claro, justamente, porque não foi só por um caso específico. Foi um conjunto de situações, agravadas pelo clima pesado que já rondava os Beatles naquele período, bem como o desgaste gerado pelos seis anos de trabalho intenso.
O engenheiro de som Peter Vince relembrou, em entrevista ao livro “The Beatles Recording Sessions: The Official Abbey Road Studio Session Notes, 1962-1970”, que as desavenças entre os músicos eram evidentes.
“As coisas estavam ficando complicadas nas sessões dos Beatles naquela época. O pessoal do estúdio era convidado a se retirar. Eles diziam, ‘vá tomar um lanche’ ou ‘vá beber alguma coisa’ e você sabia que era porque eles teriam discussões pesadas e não queriam ninguém por perto”, disse ele.
A gota d’água ocorreu quando a banda gravava “Back In The U.S.S.R.”, composição de Paul McCartney. Naquela ocasião, os Beatles ficaram das 19h até 4h45 da manhã seguinte em estúdio. Houve uma pesada discussão, mas, até hoje, não se sabe exatamente o conteúdo da briga.
O período de ausência
Fato é que Ringo Starr realmente abandonou a banda. A primeira atitude após sair dos Beatles foi viajar para a ilha de Sardenha, com o iate que pegou emprestado de seu amigo, o ator Peter Sellers.
Starr não ficou afastado da música ao longo desses dias fora dos Beatles. No período, ele compôs a música “Octopus’s Garden”, que seria lançada, futuramente, no disco “Abbey Road” (1969).
Trabalho a se fazer
Mesmo sem Ringo Starr, o trabalho precisava ser feito. Os Beatles estavam no meio das gravações do “White Album” e, naquele momento, não quiseram revelar para ninguém que Starr estava fora. Sentiram que ele poderia voltar após uma boa conversa.
Neste período, os Beatles gravaram duas músicas com Paul McCartney na bateria: “Back In The U.S.S.R.” e “Dear Prudence”. Apesar da boa performance de McCartney, eles viram que precisariam de Ringo Starr.
O retorno
O trio enviou um telegrama a Ringo, pedindo o seu retorno. Eles disseram, no texto, que o achavam o melhor baterista de rock n’ roll do mundo inteiro e que o amavam.
Dono de um coração mole, Ringo Starr aceitou voltar. Retornou no dia 4 de setembro, a tempo de participar dos clipes promocionais de “Hey Jude” e “Revolution”.
No dia seguinte, Starr foi ao estúdio Abbey Road e encontrou seu kit de bateria decorado com flores que diziam: “Welcome back, Ringo” (“Bem-vindo de volta, Ringo”). A obra artesanal de floricultura foi de autoria de George Harrison.
“Todos nós precisávamos daquele chacoalhão. Quando voltei, me senti bem comigo mesmo, superamos aquela pequena crise e tudo foi ótimo”, afirmou.