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Ótima produção, boas músicas e performance que pode melhorar: o interessante grunge brazuca do Mad Sneaks

Mad Sneaks: “Incógnita” (2013)

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O desafio de fazer rock com letras em português é grande. Mas é ainda maior quando as referências do subgênero estão bem distantes do Brasil. O Mad Sneaks, que traz o melhor do grunge e post-grunge como influência, topou o desafio de fazer uma versão tupiniquim do estilo.
O trio formado em 2009 por Agno Dissan (vocal e guitarra), Adriano Lima (baixo) e Amaury Dias (bateria) vem da minúscula cidade de Alpinópolis, sul de Minas Gerais, que tem cerca de 20 mil habitantes. Aos poucos, a banda conquistou notoriedade e repercussão no cenário independente – chegaram até a tocar em minha cidade, Uberlândia, mas não estava na cidade no dia. “Incógnita”, disco de estreia do grupo, foi lançado em 2013, com produção de Jack Endino, que já trabalhou com Nirvana, Soundgarden e outras.
A abertura instrumental “Canção Sem Fim” chama a atenção pelo instrumental bem trabalhado e pelas timbragens decisivas. O baixo distorcido de Adriano Lima, a bateria de ótima sonoridade de Amaury Dias e a guitarra pesada do também cantor Agno Dissan mostram que o trio tem uma linha artística delimitada: é como uma versão um pouco mais metálica do Alice In Chains. A influência da banda de Jerry Cantrell se evidencia na faixa seguinte, “A Cura”. Desde o apoio vocal mais grave à estrutura melódica, tudo soa como Seattle. Mas há um peso interessante aqui – provavelmente pelo baixo destacado. A canção peca apenas por não apresentar muitas variações.
“Pandora” dá sequência, inicialmente, sem distorção. Na calmaria do clean, Agno Dissan mostra que também é bom cantor. A música retoma a distorção, mas é um pouco mais lenta e flerta com o pop rock, apesar de não abandonar a proposta de letra “para baixo”, típica do grunge e deste álbum. O solo de guitarra é gostoso de se ouvir e os elementos de orquestra no refrão são interessantes.
“Sangue Sujo”, quase punk de tão simplória, cativa pela energia. Os riffs são bons e a bateria acompanha bem, mas a voz soa mal em alguns momentos. “Coma” engana: começa limpa, depois cai para o peso. A alternância acontece mais vezes ao longo da canção. A letra incisiva, a melodia de clima pesado e algumas passagens de boa interpretação vocal de Agno Dissan – especialmente antes do solo – são os destaques. Faixa tipicamente post-grunge.
“Armas, Rosas e Fogo” é conduzida pela bateria de Amaury Dias e caminha para uma música tipicamente influenciada pelo Nirvana – fora dos hits, obviamente. A faixa “Rótulo” dá sequência e combate, justamente, o que faço ao longo do texto: explicitar alguns rótulos que definam a banda. Claro que os julgamentos citados pela boa letra são outros, o que torna a temática interessante. A canção alterna entre momentos post-grunge (versos) e punk (refrão), o que é curioso e fez com que essa se tornasse a minha preferida.
“Medeleine” foge um pouco do padrão de vocalização das outras músicas. Ora aos berros, ora em calmaria, Agno Dissan parece duas pessoas diferentes na canção. Boas linhas de guitarra também garantem essa como uma das melhores do disco. “Biocida” fecha o trabalho com um pouco do que há de mais sombrio em Seattle. Arrastada, quase toda clean e psicótica em sua primeira metade, a canção adota um peso quase hardcore na segunda parte. Faixa dinâmica.
O primeiro disco do Mad Sneaks deixa claro que algumas questões de composição e performance precisam ser repensadas. Muitas canções seguem o mesmo padrão: verso, refrão, verso, refrão, solo e refrão cantado aos berros. Campos harmônicos e até estruturas – como a que citei – precisam de mais variação para que a audição do trabalho como um todo fique mais dinâmica. Além disso, creio que Agno Dissan se sai muito melhor como guitarrista do que como vocalista. O formato de quarteto, com mais um para assumir os microfones, pode representar uma evolução à banda. Ou não – pode ser que mais experiência o dê habilidade e segurança adicionais.
Apesar dos pontos citados, “Incógnita” é um trabalho de destaque em meio ao sonolento cenário do rock nacional. Bem feito, bem tocado e bem produzido. A banda pode trazer outras influências para sua música, até para deixar de lado a perspectiva de “tributo nacional à cidade de Seattle” que é adotada em certas canções. Mas o grupo tem uma linha muito bem definida e soa confortável nela. Com um ou outro ajuste em um próximo trabalho – e com calma, já que “Incógnita” foi gravado em apenas oito dias -, sem dúvidas o Mad Sneaks vai se tornar um nome de ainda mais destaque no underground brazuca.

Nota 7

Agno Dissan (vocal, guitarra, bandolim em 9)
Adriano Lima (baixo)
Amaury Dias (bateria)

01. Canção Sem Fim (instrumental)
02. A Cura
03. Pandora
04. Sangue Sujo
05. Coma
06. Armas, Rosas e Fogo
07. Rótulo
08. Medeleine
09. Biocida

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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